dieta da fertilidade

Apoio emocional

Todo casal que decide engravidar, inclusive aqueles que irão tentar naturalmente, deve saber que o tempo necessário para alcançar a gravidez pode variar muito. Para aqueles que recorrem à reprodução assistida, mais do que nunca é preciso que sintam que continuam vivendo suas vidas, cuidando de sua saúde, do seu bem-estar, da sua qualidade de vida. E, felizmente, a medicina, a nutrição e a psicologia já oferecem propostas que contribuem para o equilíbrio físico e mental durante e após os tratamentos para engravidar.

A mudança alimentar proposta e justificada em toda esta obra visa proporcionar uma melhora em termos nutricionais que favoreça a fertilidade, aumentando as chances de o casal conseguir a tão sonhada gravidez.
Dieta alimentar e fertilidade têm uma estreita conexão, já comprovada e detalhadamente exposta nos capítulos anteriores. Todas as propostas apresentadas foram elaboradas a partir das últimas pesquisas sobre a interação entre os nutrientes adequados para o aumento da fertilidade. Mais que isso, as orientações e sugestões aqui apresentadas podem servir como um guia para todas as pessoas que querem viver melhor, aproveitar todas as possibilidades que a vida apresenta, sentindo que têm energia e disposição para seguir em frente, independentemente do projeto de vida.

Se você está apresentando dificuldade em implementar essas mudanças em sua vida, deveria se atentar para a influência das emoções nesse processo. O objetivo deste capítulo é expor de forma bastante prática alguns conflitos emocionais que podem estar dificultando as mudanças necessárias na sua dieta alimentar, principalmente no que diz respeito às vivências emocionais daquelas mulheres que apresentam queixas relacionadas à fertilidade.

Nenhuma mulher sonhou com o dia em que teria que passar por tratamentos reprodutivos. Ou mesmo aquela que já imaginava que iria precisar desses cuidados, por um problema orgânico conhecido anteriormente, poderia imaginar o impacto emocional desse obstáculo. Então, quando a vida oferece esse imprevisto, fazer mudanças, adaptar-se é fundamental, quase uma lei de sobrevivência. Em termos orgânicos e psíquicos! Darwin afirmou: “Na natureza não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”.
Se mudar e adaptar-se é crucial nesse momento da vida reprodutiva, por que algumas mulheres conseguem realizar as mudanças necessárias no seu estilo de vida, na sua alimentação, e em todos os cuidados orientados pelos médicos e outras não?

Seria muito ingênuo pensar que algumas pessoas não mudam seu estilo de vida em função da falta de informação, inclusive no gupo relativo às mulheres que realizam tratamentos reprodutivos (Domar, A.D. e col.
2012). Dessa forma, jamais encontraríamos cardiologistas que fumam, endocrinologistas obesos, médicos estressados ou sedentários. Também seria simplista pensar que todos aqueles que tentam fazer dieta e não conseguem são preguiçosos, um julgamento no mínimo falso. É que fazer mudanças nem sempre é fácil, mesmo quando se tem todo o corpo informativo em nossas mentes.

A maioria das pessoas quer emagrecer ou mudar hábitos alimentares sem muito esforço, preferindo culpar outros pelo seu fracasso. Para lidar com essa sensação de fracasso elas projetam a responsabilidade e a culpa para outras pessoas ou motivos, minimizando o próprio papel no processo. Não podemos nos esquecer de que as mudanças e as decisões que fazemos envolvem uma gama de sentimentos, lembranças, traumas e outras tantas vivências que interferem nesse processo e dificultam o caminho. Freud já dizia: “O novo sempre
desperta perplexidade e resistência
”.
Mudar hábitos alimentares nem sempre é algo tão simples para todos. Sabemos que não se come apenas para matar a fome física. A alimentação não é somente uma fonte de sobrevivência, é também uma fonte de prazer! E as sensações prazerosas ficam registradas em nossa memória afetiva, por isso nem sempre se quer abrir mão desta ou daquela sensação prazerosa associada ao alimento ou à receita tradicional da família.

Privar-se de alguns alimentos remete a desfazer essas íntimas conexões entre alimento e satisfação emocional, carinho, colo, alívio de ansiedades e frustrações.
Durante a leitura deste livro, o leitor pode se envolver com as últimas pesquisas e tratamentos nutricionais que ajudam a melhorar a fertilidade. E fazer essas mudanças no dia a dia, implementar essa dieta, é algo que somente o paciente pode fazer, ninguém mais, e isso está totalmente ao seu alcance. A partir do momento que se introduz uma nova rotina alimentar, conseguindo se cuidar melhor, com certeza essa mudança irá interferir positivamente na autoestima do(a) paciente, diminuindo o sentimento de impotência que sempre surge durante os tratamentos e, como consequência, adquirindo hábitos mais saudáveis para toda uma vida.

Pensando nas mulheres que vivenciam algum impedimento para engravidar e na interferência das emoções no processo de mudança de hábitos alimentares, apresentamos a seguir algumas ideias com que o leitor poderá se identificar e, assim, observar no dia a dia se estas estão interferindo de forma prejudicial no seu processo de mudança alimentar.

AS EMOÇÕES NO CONTEXTO DA INFERTILIDADE

Toda mulher (e todo casal) que passa por tratamentos reprodutivos vivencia algumas emoções muito específicas relacionadas ao diagnóstico da infertilidade. É fundamental que se possa reconhecer essas emoções e identificar se estão interferindo na sua capacidade de fazer as mudanças necessárias, na sua dieta alimentar e na sua vida.

Para facilitar a compreensão, vamos apresentar alguns temas referentes às alterações emocionais de forma mais detalhada e didática, lembrando sempre que cada indivíduo tem uma história de vida, personalidade e contexto social e cultural diferentes, que dão um colorido distinto em cada aspecto apresentado. Um processo emocional bastante comum nos casos de infertilidade é a necessidade de se vivenciar o luto, palavra usada frequentemente na área psicológica para definir todo processo de elaboração emocional que envolve uma perda: física ou psíquica – como a perda de um sonho, de um projeto de vida. O sentimento de luto é caracterizado por perda, solidão, vazio, ausência. É necessário abrir mão do sonho daquela gravidez idealizada (aquela que ocorre na hora “certa” do casamento, na idade reprodutiva “certa”, no momento profissional “certo” etc.) para começar a usufruir das possibilidades que a vida e a medicina reprodutiva oferecem. Para isso, é necessário realizar o luto pela perda de um sonho, “daquele” sonho ideal, e não da possibilidade concreta de ser pai e mãe.

Luto é um processo, não um estado estático: um tempo de elaboração e transformação que atinge os indivíduos, desestruturando-os pela falta, desestabilizando seu funcionamento (Bromberg, 1998). Um luto mal elaborado impede a realização de mudanças, um abrir-se ao novo, às possibilidades, a recorrer às ajudas necessárias. O processo do luto em infertilidade tem algumas fases conhecidas, que serão descritas a seguir e cujas emoções são intensas e geralmente desencadeadas em de cada uma das fases, originalmente criadas por Kubler-Ross (Chavarro e col., 2007) ). Observar essas fases é apenas um guia geral, que oferece a possibilidade de pensar e se identificar com algumas das emoções que possam estar interferindo na sua reeducação alimentar.

FASE DE NEGAÇÃO

O choque e a sensação de estar “anestesiada” vêm de forma marcante nessa fase inicial, em que as emoções estão confusas com o diagnóstico da infertilidade. Muitas vezes não há casos de infertilidade na família, e a própria dificuldade para engravidar não tem “causa aparente”. Essa situação emocional é de extremo desconforto, inconformismo, e os casais partem desesperadamente para buscar novas clínicas e diferentes opiniões médicas.

FASE DA RAIVA E REVOLTA

Passado algum tempo de “investigação” pelo casal do porquê de não engravidarem, a raiva e a revolta começam a dominar o cenário emocional. Este sentimento pode ser dirigido aos médicos que não oferecem
uma solução 100% segura, ao parceiro que não se dedica 100% aos tratamentos e até a todas as mulheres grávidas que aparecem pela rua e pelos sites e blogs sobre o tema.

A raiva, a frustração e a revolta podem tomar conta do contexto emocional no dia a dia e proporcionar interpretações erradas a todas as observações que a mulher ou o casal vai realizando. É um convite de aniversário infantil que não deveria ser feito, um parente que não deveria engravidar antes de vocês, um comentário que não deveria ser dito, supondo o seu sofrimento e aumentando a sua sensação de estar excluída
do mundo das mulheres “poderosas”, as que conseguem a gravidez. Parece que todas as grávidas resolveram sair à rua apenas para esbarrar em você e fazê-la se lembrar da sua “incompetência”.

É claro que todas essas situações são fruto das interpretações erradas que se vai fazendo no dia a dia em função da raiva e da dificuldade em lidar com a frustração da gravidez que não vem na hora certa. Nesse momento, muitos casais acabam se isolando, evitando um convívio social, o que só reforça a sensação de exclusão que vivem internamente.

Esta é uma fase de muito sofrimento, de muita angústia, que necessita ser superada. Para aquelas mulheres que já apresentam em seu repertório emocional o alívio de angústias através dos alimentos, facilmente se observará a ingestão maior do que chamamos de “comfort food”, ou alimentos muito calóricos, pobres em nutrientes, mas que “descem” quentinhos, oferecendo uma sensação de alívio instantâneo. É evidente que esse hábito não irá repercutir favoravelmente no plano das mudanças alimentares fundamentais para a fertilidade. O problema é que muitas mulheres não enxergam essa dinâmica.

Neste momento, mais do que nunca, um plano de mudanças alimentares poderia ajudar a melhorar a autoestima, evitar que se descarregue as ansiedades na forma de compulsão alimentar. Mudar os hábitos, ajudar o corpo a se reequilibrar, seria algo extremamente saudável, mais do que apropriado nesse momento, num movimento contrário à tendência a desmotivar-se e desesperar-se.

FASE DA CULPA

Podemos dizer de forma ilustrativa que a culpa é a raiva dirigida a si mesmo ). Sentir-se totalmente responsável pelo problema da infertilidade é um sentimento que pode se intensificar nesse momento. Qualquer coisa que se pense ter sido feita, mesmo que racionalmente seja a mais impossível de poder prejudicar a fertilidade, ganha força naquela situação. As fantasias tomam conta, e podem ser de todas as histórias e associações emocionais possíveis. Infelizmente, em alguns momentos da vida, as fantasias superam a realidade e se passa a acreditar fielmente que tais associações são verdadeiras. Geralmente os pensamentos são de falhas, de coisas que não foram feitas no passado ou foram feitas de forma errada.

O sentimento de culpa é especialmente intenso naquelas mulheres que dedicaram muitos anos de sua vida à ascensão profissional e que agora fantasiam um cenário sombrio para conseguir a gravidez. A sensação de ter “errado” na sua opção de vida é muito forte e cruelmente acrescenta um sentimento torturante a uma situação que já é complexa para se administrar emocionalmente.

Muitas mulheres bem-sucedidas profissionalmente tentam imprimir nos tratamentos reprodutivos a mesma fórmula de sucesso da ascensão profissional: muito esforço, muita dedicação, muita energia para quantas tentativas forem necessárias e, então, é só esperar pelo beta positivo. Só que neste caso precisam lidar com uma situação em que justamente se foge à regra! Existe uma parte do processo que se pode controlar, e outra que ninguém tem o poder de predizer o que irá acontecer, quando e se a gravidez vai ocorrer.
Claro que a dedicação e o cumprimento das orientações médicas são fundamentais, mas se faz necessário o uso de outras ferramentas para aliviar a ansiedade durante o processo. E é neste momento que entra a reeducação alimentar, o cuidado com o mundo emocional e tudo que se possa fazer para facilitar o caminho! E isso se aplica não somente àquelas mulheres que pensam na gravidez, mas a todas que querem viver mais e com mais qualidade.

FASE DEPRESSIVA

O quadro emocional que se estabelece nesse momento é uma constante vivência de sentimentos depressivos (sempre que uma menstruação chega ou um tratamento falha isso se acentua), uma ansiedade que aumenta ao perceber que mesmo em boas condições físicas o tratamento não funciona, sensações de desesperança de e falta de motivação (que se inicia na falha do tratamento e pode se generalizar para uma ou quase todas as outras áreas da vida).

Esta fase emocional inspira bastante cuidado, pois os sintomas depressivos podem se apresentar em somatizações que vão influenciando todo equilíbrio físico e emocional. Como em qualquer quadro depressivo,
podem surgir alterações no sono, na capacidade de concentração, no ambiente profissional e desordens alimentares, entre outros indícios de que tal quadro emocional precisa de cuidados. Iniciar um dieta nesta fase
é difícil, mas se essa barreira inicial puder ser transposta com a ajuda de uma equipe multidisciplinar, as mudanças nos hábitos alimentares associadas às atividades físicas com certeza irão repercutir em uma instantânea melhora no bem-estar geral.

Esse sopro de energia e motivação pode levar ao último estágio do processo de elaboração emocional dos problemas reprodutivos, que, enfim, representa a possibilidade de consolidar mudanças efetivas não somente nos hábitos alimentares na procura da melhora do bem-estar e da qualidade de vida de forma holística.

FASE DA ACEITAÇÃO

A fase em que se consegue viver bem sem que esse tema influencie todas as reações e oportunidades que a vida oferece. A mulher pode se abrir para o novo, para se tentar hábitos diferentes, para uma visão mais otimista de que a maternidade e a paternidade chegarão; talvez de uma forma diferente da idealizada, mas isso não significa que será uma experiência traumática ou de menor valor, apenas diferente, no entanto única e muito especial.

QUANDO PROCURAR AJUDA PROFISSIONAL

Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes. Albert Einstein

O impacto nos casais dessa avalanche emocional em cada tratamento reprodutivo merece cuidado especial por parte dos profissionais da área da saúde. Algumas pessoas conseguem lidar sozinhas com essa carga de angústia, às vezes por terem o companheiro como um grande aliado nessa batalha, assim como com os membros da equipe médica.

O trabalho de uma equipe multidisciplinar em reprodução assistida é proporcionar um suporte, oferecer ajuda especializada para esse momento de mudanças, de expectativas, e algumas destas propostas, como as apresentadas nesta obra, podem fazer toda a diferença no sucesso do tratamento.

A ilustração de algumas emoções e fases características do processo de aceitação do problema não significa que todos passem necessariamente pelas fases de forma linear. Apenas mostra e oferece uma visão geral do amplo espectro emocional que influencia os processos de mudança nessa fase da vida de muitos casais. Resumindo, siga todas as orientações de sua equipe de saúde, mas também:
– observe suas emoções e a interferência destas no seu dia a dia;
– converse sempre com seu médico sobre todas as suas dificuldades;
– procure tratamentos paralelos sérios e científicos – como uma orientação nutricional especializada, uma terapia psicológica realizada por um profissional de saúde mental voltado para esta área;
– tente viver essa fase da vida da forma menos traumática possível. Para isso deve-se manter um equilíbrio sempre, na vida afetiva, social, familiar e profissional. Não significa que seja necessário negar o sofrimento pela
espera da gravidez, ou o impacto dos tratamentos no dia a dia. Mas, sim, cuidar diariamente para que as emoções não interfiram no processo de mudança e na aceitação de outras formas de cuidados com a saúde.
Tudo aqui apresentado pode ser implementado de forma prática no dia a dia. Só depende de você acreditar, dar uma chance ao novo, às mudanças e esperar por resultados animadores!

As informações contidas neste site têm caráter informativo e educacional e, de nenhuma forma devem ser utilizadas para auto-diagnóstico, auto-tratamento e auto-medicação. Quando houver dúvidas, um médico deverá ser consultado. Somente ele está habilitado para praticar o ato médico, conforme recomendação do CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA.